sábado, 13 de dezembro de 2014

Vai ser muito fácil vir à Alfaiataria

Capítulo I - Porque é que a Alfaiataria tem uma localização complicada? Alguns mitos e a verdade dolorosa de que a Rua do Vale de Santo António é para valentes


Vamos lá ser francos. A Alfaiataria tem uma localização tramada! Provavelmente dizer isto vai contra todas as regras do discurso de Marketing mas que se lixe, tem...     Porquê?



  • Para quem venha de carro não é o sítio mais fácil do mundo de estacionar.Também não é o pior. Não é mais complicado do que um Bairro Alto ou um Príncipe Real bem pelo contrário, e ademais aqui o estacionamento é grátis. Mas o facto é que há dias levados da breca em que não, não é fácil...            Ou não era! Já lá vamos...

  • É fora dos clusters habituais da ronda dos petiscos e dos bares. Isso assim de repente nem é necessariamente mau. Para quem dispense o banho de multidão a acotovelar-se numa comunhão suante e gritante supomos que a Alfaiataria seja uma muito melhor opção. Mas de facto quando apetece o rally das capelinhas de porta em porta não é propriamente fácil para quem nos venha visitar depois continuar a noite em outra direção qualquer. Ou não era! Já lá vamos...
  • A Rua do Vale de Santo António é um petisco íngreme de se subir a pé. Não que a subida seja muito longa mas é desafiante e basta olhar para o ar de sofrimento "deitei os bofes pela boca" e orgulho pelo feito dos que cá chegam à porta para perceber que assim é. Também nos ocorre dizer que o resto da cidade também raramente é plano mas nada disso implica que por aqui não seja sempre a subir. É! Bom, e vai continuar a ser mas isso vai passar a interessar pouco. Também já lá vamos...

  • Finalmente é longe de tudo, fora do centro da cidade. Longe p'a caraças! Bom, nunca foi, continua a não ser e isso é um disparate mas também já lá vamos.

Capítulo II - Porque é que isto vai mudar num twist espetacular que fará da Alfaiataria o Shangri-La da acessibilidade?

Não vamos demolir a Estátua do Marquês de Pombal para meter lá algo mais útil ao povo como a Alfaiataria. Até seria lógico. Mas não vamos.

Não vamos abrir lojas em cada esquina que nem cogumelos. Pelo menos, não para já. Para o ano, quem sabe?

E então?

Vamos conceder aos nossos associados e seus convidados 3 serviços catitas que farão dos serões na Alfaiataria uma experiência supimpa - mas isso já era - e extremamente acessível.

Vamos lá então...


Expresso da Alfaiataria

A Alfaiataria disponibilizará dentro em breve um serviço de cortesia de recolha e devolução dos seus associados num dos seguintes 4 pontos:
  • Traseiras de Santa Apolónia - Ideal para quem chegue até nós de Metro ou estacione num dos vários parques circundantes à zona de Santa Apolónia
  • Porta do Quartel de Transmissões da Graça - Ideal para quem chega à  zona de Sapadores num dos vários autocarros que aí convergem
  • Miradouro da Nossa Senhora da Graça - Ideal para quem chega de elétrico ou começou por apreciar o fim de tarde por esses lados antes de vir até à Alfaiataria para jantar ou beber um copo.
  •  Feira da Ladra - Ponto ideal pela facilidade de Estacionamento gratuíto para quem venha de automóvel

Jarbas da Alfaiataria

Será igualmente um serviço de recolha e devolução que abrangerá uma área de sensivelmente 8 km em torno da Alfaiataria.


Guia Nativo

Estacionar nas imediações da Alfaiataria não permite milagres de inventar estacionamento onde não há mas tem muitos tesourinhos escondidos para quem conheça bem a zona. Para aqueles que sejam mais tenrinhos então é parar à porta e requisitar um Alfaiate para lhe mostrar os segredos mais secretos das ruas aqui bem perto onde com alguma facilidade vão conseguir estacionar. Depois fazem um pacto de silêncio e pronto, está feito. Este serviço será absolutamente grátis mas um abracinho ao Guia será bem vindo.


Capítulo III - Possibilidades prodigiosas!


Vir à Alfaiataria vai ser uma experiência cómoda. Sem problemas de estacionamento. Sem caminhadas desafiantes. Melhor, porque não pedir que nos venham a casa buscar e trazer de novo? E poder beber mais aquele copo sem tentar adivinhar onde está a Operação Stop. Ou então não, a noite é ainda uma criança e a Alfaiataria fecha a loja por hoje mas nós não. E é fácil. Em vez de ser em casa pedimos que nos deixem na próxima paragem do Rally das Capelinhas! A Alfaiataria já não se responsabiliza com o que venha depois, é certo...           ... mas vamos na mesma!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Coisas de velhos

Eu tenho que confessar. Não que tenha tido a certeza mas ocorreu-me, imbecil, a possibilidade, que ainda se vendesse.

Mas a história do início, claro...

Andava às voltas com a Alfaiataria e achei que era porreiro organizar noites de Risco. A verdade é que fico nostálgico de sermos putos e nos reunirmos em tardes inteiras em casa de uns e outros a jogar Risco. A mãe de serviço faria o lanchinho e nós ficávamos horas naquilo, a conquistar a Europa do Sul e a fazer alianças para derrotar o sacana que  estava quase a cumprir o seu objetivo. Havia o meu primo Miguel que fazia birras quando sentia alianças contra si e chorava baba e ranho da injustiça do complot.

Tenho realmente saudades de ter com quem jogar. Nunca percebi a piada de serões de sueca e depois quando apareceu a playstation e os gajos passaram a jogar PES ou FIFA também não me deixei tentar.

Eu gostava era de Risco!

E de repente pensei: porque não passar do Risco a algo um pouco mais elaborado que a métrica simples desse jogo? O "Risco da Alfaiataria" ainda sem nome definitivo!

A ideia entusiasmou-me e num rasgo clarividente criei as regras que me pareceram bem, ponderei como fazer o tabuleiro de jogo o que também não me criou grandes problemas.

Até que me ocorreu o problema: então e as peças?

E lembrei-me daquela bonecada em miniatura da II Guerra, em pvc, sabem? Ah, os moços da minha geração têm que saber! Os alemães eram azuis escuros, os ingleses, laranjas, os americanos verde alface. E depois havia ainda japoneses, australianos e uma data de coisas mais exóticas que eu não tinha porque o meu exército era modesto. Mas ainda me lembro das posições de combate em que cada exército vinha: o oficial alemão a apontar a Luger, o americano deitado no chão a apontar a espingarda de assalto com tripé ou o outro boche a atirar uma granada. Eu preferia a bonecada que vinha em posição de tiro em detrimento dos que trazia a arma à tiracolo ou assim. Nas minhas guerras quinavam sempre primeiro. E outra coisa que me fazia confusão era porque é que os britânicos eram sempre mais franzinos. Bom! Tudo isto para dizer que esta bonecada me marcou.

E pelo meio distraí-me de que passaram 30 anos e o Mundo mudou. E deve ter sido por isso que por segundos me ocorreu a possibilidade imbecil que ainda pudessem vender-se tais coisas.


Não vendem, só no OLX, quais antiguidades - credo - o principal fabricante faliu e foi comprado há muitos anos por outro grupo qualquer.

E pronto, se alguém tiver bonecada desta velha que queira doar à Alfaiataria, os futuros serões de "Risco" agradecem.

Era só isto...




quinta-feira, 28 de agosto de 2014

As medidas de... ... Isabel Ponce

A Ponce tardou mas não falhou e deu-nos uma entrevista, tântrica, de tempos lentos, doces e intimistas. As horas escorreram pelas paredes da Alfaiataria nessa conversa labiríntica de encruzilhadas como se cerejas fossem. Falou-se de tanta coisa e às tantas eu pensava para mim que desta vez ia ser lixado este meu método de simplesmente memorizar a entrevista. A Isabel sorria sempre, olhos húmidos. Que pensaria para ela? Que o incompetente do brasileiro se tinha esquecido de lhe colocar queijo na tosta de frango? Provavelmente...


A - Do início, tu vens de onde, Isabel?

I - Olha, nasco em Lisboa. E a primeira coisa que retenho é uma primeira infância muito, muito feliz. Uma família unida como depois nunca mais tive. Alargada, à antiga. Vivia com os meus pais, avó e tia e são recordações maravilhosas de aconchego. Mas depois veio o 25 de Abril. Que trouxe tudo de maravilhoso que sabemos mas que a mim me destruiu a família. Tínhamos uma casa de férias na Sobreda da Caparica. Depois da Revolução sempre que não estivéssemos lá alguém ocupava a casa. E por isso os meus pais decidiram que alguém tinha que lá viver e mandaram para lá a minha avó, a minha tia e eu. Aí tudo mudou. Eles ficaram em Lisboa. Trabalhavam muito e sobretudo depois do 25 de Abril a empresa entrou em falência e tudo se complicou mais. E por isso fiquei meio orfã a crescer sem os meus pais, lá na Sobreda, com avó e tia. Foi aí que se perderam uma série de referências. E é uma coisa que me marca até hoje e que racionalmente talvez já entendas mas emocionalmente ainda não. Porque é que os meus pais me abandonaram com aquela idade?

A - Tudo mudou...?

I - Tudo mudou. Primeiro porque me tornei uma pequena selvagem que vivia ao Deus dará. Literalmente. A Sobreda da Caparica era um pouco a selva comparada com Lisboa. Quintas, casas de férias, um ambiente meio clandestino para onde já no Estado Novo se fugia para libertinagens interditas, meio artístico, homossexualidade, etc. E uma vizinhança pobre de miúdos humildes que chumbavam, chumbavam, chumbavam e depois iam trabalhar. E a Isabel a crescer ali à balda. Hoje rio-me e recordo esse período como se fosse saído do Livro da Selva, ou o Tarzan ou assim. Uma vez o Circo chegou à terra e eu estive com eles até irem embora. Era assim, foi assim até voltar para Lisboa e ter quase que ressocializar.

A - Voltas para Lisboa quando?

I - Com 12 anos. Bom e o Deus dará de pais ausentes continuou. Só nas saídas à noite era controlada. De resto tinha os disparates todos à disposição. Ainda por cima estava no D. Diniz, um dos piores liceus de Lisboa. Era tempos diferentes, agitados. Havia violência nas escolas, droga, agitação política, era uma juventude muito politizada e era tudo meio louco. Viver nisto solta tinha tudo para dar mal. Não deu. Foi o meu anjo.

A - Como é que eras em miúda?

I - Diferente do que sou hoje. Não, não é verdade, ainda sou o que era. Mas agora é um traço mais intimista da personalidade que está menos na montra. Era introspetiva, sequiosa de ler, de cinema. E tive sorte. Conheci pessoas muito interessantes que me infliuenciaram. Professores de liceu, amigos que eram muito diferentes de mim e em que podíamos ser de várias tribos urbanas mas partilhávamos, éramos amigos e tudo funcionava muito bem. E a Isabel sempre ao Deus dará a fazer o que faz até hoje, sem família e a procurar família nos amigos e nas famílias dos amigos.

A - Que balanço fazes hoje dessa "orfandade"?

I - Primeiro que me marcou em carência. Essa incompreensão que dura até hoje. Ficou a faltar o lado bom dos valores familiares. Não sou uma tradicionalista mas aprecio algumas coisas da tradição. O conceito de família é uma dessas coisas. Por outro lado soltou-me. Para ver o mundo sem o embaraço daqueles preconceitos em que os pais acabam sempre por nos condicionar. Aceitar pessoas diferentes, não julgar, não ser preconceituosa e dar muito, muito valor aos meus amigos.

A - Os amigos são essenciais na tua vida, não são...

I - Rui Pedro, os amigos são em muitos casos a minha família e rego-os como um jardim grande e aprimorado. Há pessoas que dizem que ninguém tem mais do que dois ou três amigos verdadeiros. Disparate. Se te deres, se regares podes ter muitos e bons amigos. Mas tens que investir, claro. E eu tenho muitos e diferentes. Olha, a Ana Lourenço que nem vejo muito mas que não me perguntes porquê é das que mais falta me faz se estou em baixo. O Zeller, que enfim, o Zé é o Zé, devolveu-me Lisboa. O Filipe, a Fi. Amigos muito antigos, amigos que deixei no Brasil. O Miguel! Eu tenho muitos amigos!

A - Vamos na tua adolescência...
I - Depois casei. Novinha. O meu primeiro marido era piloto da Força Aérea. Início de romance belo.e absoluto de cartas trocadas. Por ele fui viver para o Texas. Odiei, o Texas e eu não temos nada a ver. Foram três anos horríveis. Quando regressamos a divergência de vidas agudiza-se. Ele é colocado em Beja com os F16 acabados de chegar e eu arranjo um empregaço. Grande sucesso, ordenadão, roda viva entre Lisboa e o Porto. Pelo meio o casamento acaba. É algo que lamento até hoje, ter magoado o meu primeiro marido.

A - Voltas a casar?

I - Duas vezes. (risos). Primeiro com o Pedro. O homem mais maravilhoso que conheci. Tinha sido meu professor quando estudei Direito. Eu estava a viver o meu auge. Trinta e poucos anos, carreira de sucesso, uma vida social infernal, o culto do corpo. E tinha o Pedro comigo e o Pedro era fantástico. Mas depois sucede algo. O Pedro chega ali a uma fase, a uma espécie de crise de meia idade que o tornou mais reflexivo, mais reservado. E eu infelizmente fui imatura, não soube perceber, esperar. Perdi-o. Mas estamos a falar de um gajo tão maravilhoso que ficou um melhor amigo até hoje. Mesmo no calor da separação esteve sempre lá para mim.

A - Não há duas sem três...

I - Conheço o Miguel e caso quase de seguida. É aqui que a história entronca no marco brutal de Arraial D'Ajuda. O Miguel tinha uma filha, a Carolina que é até hoje a minha filha emprestada e adorada. A mim incomodava-me o pai do Miguel viver no Brasil e não conhecer a neta. E contrariada fui eu que pressionei para irmos passar férias ao Brasil.

A - Contrariada porquê?

I - O Brasil não me dizia nada. Nada mesmo. Nem para férias. O Miguel chegou a falar-me em morarmos lá. Impensável. Até que fomos de férias. E não te sei explicar. Aterrei em Porto Seguro e odiei. Mas depois ia na balsa a atravessar o rio para o outro lado. E...          ... não sei explicar. Ainda estava a ver aquela margem ao fundo e senti uma comoção inexplicável. Dizem Que Arraial D'Ajuda ou te abraça ou corre contigo. E se te abraça não te deixa ir embora. E a mim abraçou-me. Com tanta, tanta, tanta força. Aqueles dias foram mágicos. Tanto que ainda no avião de regresso a Lisboa pergunto ao Miguel. "Miguel, e se largássemos tudo e viéssemos para cá?" E foi o que fiz. Larguei tudo. Emprego, vendi bens, dei bens. Foi tudo. E fui para lá.

A - Como foi?

I - Olha o casamento acabou em meses (risos). Mas eu fiquei. Como explicar? Foi o desapego de tudo. Tinha largado tudo, estava só. Claro que não passava dificuldades, vivia de rendimentos, num condomínio privado em frente à praia. Mas com muito menos do que alguma vez tinha tido. Sem as roupas e os cremes e os saltos. Bikinis, cangas, chinelos. E as pessoas, sobretudo as pessoas. Tive um acolhimento mágico. Fiz tantos amigos. Em algumas coisas ali é tudo frugal. Vais comprar um vestido preto? Vais comprar da cor que houver e se calhar nem precisas. Vais cozinhar bacalhau? Vais cozinhar o que houver no mercado e bacalhau na volta só para o mês que vem. E eu curei-me do consumismo e do querer ter muito e essa lição não esqueci mais. Aprendi a dar-me com aquela gente. Aprendi que não precisas de gel para tomar banho e que um pobre só dorme com fome na rua se ninguém lhe abrir a porta. As portas estavam sempre abertas. Os braços estavam abertos. Aprendi a abraçar que nem louca, a dizer o quanto gosto de ti. Aprendi a gostar do meu corpo e que não é por ter celulite ou não que sou bonita ou feia.

A - É nessa altura que conheces o Zé Van Zeller?

I - Não! Eu não conheci o Zé lá! Foi mais engraçado que isso. Fui um dia com o meu sogro à pousada dele e que estava a ser explorada pelo "ex". E fiquei boquiaberta com aquilo. Achei graça porque o outro dizia que o conceito era sobretudo dele. Mas era óbvio que não. O tal Zé, o que se tinha vindo embora era obviamente o mágico que tinha criado toda aquela obra prima. Tanto que cheguei a casa e disse ao meu sogro "Olha, cá entre nós, eu gostava era de conhecer esse Zé, o que voltou para Portugal." - E conheci. Ainda troquei uns emails com ele em Arraial. E quando voltei para Lisboa encetámos a nossa maravilhosa amizade.

A- Voltaste porquê?

I - Porque lá aprendi a simplicidade em tudo menos numa coisa. Cultura. Ter acesso à cultura. Aquilo era muito pobre e às tantas percebi que tinha que sair de lá rápido ou aceitar ficar para sempre e ir-me tornando "naquilo". Naquela simplicidade.

A - Voltaste lá entretanto?

I- Não...

A - Pensas e voltar?

I - Muito...           ... mas morro de medo. Foi muito intenso.

A - Pergunta cliché antes de retomarmos a atualidade dos dias de hoje em Lisboa. Uma coisa que te orgulhes muito e uma de que te arrependas?

I - Dos orgulhos tenho dificuldade em falar porque são histórias que expõem outras pessoas. Mas há uma. (hesita). Bem eu no fundo não me importo que as pessoas saibam...     ... tentei-me suicidar. A beleza não foi nisso. Foi em ter ganho a luta que me fez acordar de cinco dias de coma. Fui ao outro lado e senti o abraço da morte. E tive a coragem para a guerra mais dura da minha vida que foi voltar.

A - Há o outro lado?

I - Acho que sim. Eu não sou católica. Mas sou mística. Cheia de contradições de coisas cristãs, pagãs, espirituais, santinhos, anjinhos, energias. E há. Eu senti-o. E não foi bonito. Não foi bonito para mim. Acho que a morte não gosta de meninas, gosta de almas maduras. Não me queria e eu é que me lancei para lá. E ela não me queria mas vingou-se de eu ter ido sem dever e tratou-me mal. Não me queria deixar vir. Foi um lição porque acordei apaixonada pela vida. Sou apaixonada pela vida até hoje.

A - Arrependimentos?

I - Quase nenhuns. A Isabel é doida, embebeda-se, desaparece sem dar cavaco, atira-se para uma fonte, faz loucuras. Mas não faz mal a ninguém. Magoei muito pouca gente na vida, arrependo-me de pouco na vida.


A - E chegámos ao presente. Sei que estás a trabalhar no Projeto da Miss Suzie. Conta lá.


I - Outra família que me acolheu, a Suzie e o Nico. Começou tudo com um acordo de cavalheiros. Eu ia ajudar porque estava sem trabalho e eles na medida da modéstia das possibilidades partilhariam o sucesso do projeto comigo. E eu partilho com eles a medida do menor sucesso quando as coisas não estão tão bem. E tornámos-nos uma equipa e uma família. Tem sido muito bom. Por partilhar isto com eles e pelo projeto em si. É uma coisa de muita criatividade, fantasia, para tornar as pessoas alegres. O tipo de coisa em que3 me vejo feliz e estou feliz.


A - E a seguir?

I - E a seguir é futuro e ânsia de viver e serenidade de aceitar essa minha ânsia e tentar ser feliz. Todos os dias.






















sábado, 23 de agosto de 2014

As medidas de... ... Paulo Afonso!



Entrevistámos o Paulo Afonso, vocalista dos Alfaiates à Porta da nossa Alfaiataria. Estava contentinho. Talvez fosse porque ia cantar a seguir, talvez fosse porque o barman brasileiro lhe servira um Porto de dose reforçada. Enfim...           ... temos que disciplinar o barman...


A - Então do início, nasces onde pá e o que é que andaste a fazer entretanto?

P - Olha, nasci na parideira nacional em Março de 76 e fui logo para Campolide onde estive os trinta anos seguintes.

A - Sais de casa dos paizinhos aos trinta, então?

P - Sim, tinha traçado esse como o meu limite.

A - E pelo meio?

P - Sei lá, já me esqueci. Olha eu queria ser piloto. Mas depois o meu pai tentou meter a cunha a um contacto na Força Aérea e lá me destruíram o sonho. "Filho, esquece, és caixa de óculos..."

A - E depois?

P - Depois quis ir para desporto e desta vez foi a candidatura que me deu cabo do sonho. Não tive média. Entrei na terceira opção. Engenharia do ambiente, aquelas coisas que escrevemos lá no formulário porque tem que ser mas não queremos realmente. Mas fui. Dois anos a passear os livros e às tantas tive pudor de ser sustentado pelos pais e desisti.



A - Arrependes-te?

P - De largar aquele curso em concreto, não! E fui para a TMN e estou até hoje nas Telecomunicações.

A - E a música.

P - A música surge entretanto na faculdade. Não, espera, foi antes. Foi com 17 anos que tive a minha primeira grande influência como cantor. Mas se eu te disser é off record, prometes?

A - Sim, é sigilo.

P - Pois bem, foi o Michael Bolton. O primeiro tipo marcante em como usar a voz.

A - Opá sendo assim não sei se vou conseguir manter o sigilo...

P - Ok, mas tinhas dito...

A - Tinha era um facto, mas é bom demais, compreenderás...           ... olha e alguma vez tiveste uma permanente igual ao Michael Bolton?

P - Isso não. Mas usei cabelo comprido. Mas era fraquinho. Fiquei careca cedo. Aos 22 anos comecei a perder cabelo.

A - Mas vamos de novo à música. Falaste da faculdade.



P - Sim conheci aquele que foi meu parceiro muitos anos e com quem construi o percurso até há pouco tempo divergirmos.  Fomos primeiro These Side, depois Volvo Laranja e depois amadurecemos como "Deus dos Cães". Mas as pessoas entravam e saíam e nós eramos o fio condutor.

A - Opá, desculpa lá voltar atrás de novo. Mas disseste 76. És peixinho? És mesmo?

P - Sou mesmo. Com aqueles traços todos passionais à flor da pele. Há é peixes gordos e eu sou peixe magrinho. Mas sou!

A - Ok, retomemos. Íamos em Deus dos Cães...

P - Sim foi muito bom. Muita pica, muitas noites. Marcante. Mas terminou. Terminou e surgem os Alfaiates. Pá, um convite que eu não esperava do Pedro e em boa hora aceitei porque me surpreendeu o grupo formado. Um projeto muito sintonizado e em que sinto que não sou o único a puxar. Estou com boas expetativas do que estamos a montar.

A - E o que é que achas que os Alfaiates vão oferecer ao público?

P - Epá, algo que eu diria chic, não é chic formal mas com gosto, sabes? Mas ao mesmo tempo meio desbunda!

A - Ah, palhaços chics!

P - Não! Palhaços, não! Mas o grupo tem química a tocar junto. E depois temos o Rui. Eu canto, mas não sou um entertainer, o Rui é. Eu canto e o gajo conta histórias e eu que sei o ambiente que se está a criar na sala lá em baixo. Epá, estou com expetativas.

A - Então vai correr bem?

P -Epá, sei lá! Isso pergunta-me no fim!


domingo, 17 de agosto de 2014

As medidas de ... ... José Ricardo Araújo!

Entrevistámos o Ricardo. A entrelinhas com uma fatia de bolo e uma mini nas unhas. O nosso guitarrista tímido hoje perdeu um tanto de percentagem dessa timidez e falou-nos de si.

A - Vamos do início. O Brasil, conta-nos lá.

R - Sou de Fortaleza, filho de famílias que podemos dizer humildes. O meu pai era engenheiro do Estado da DNOCS, que combatia a seca, grave na minha região e conheceu a minha mãe. E pronto...         ... na verdade se penso na minha família o que salta logo à vista é que quase todos eram músicos, do lado do meu pai, sobretudo. Mas o gosto pela música acabou por me vir sobretudo do lado da minha mãe que sempre me cultivou muito desde pequeno e nos fez ouvir muita coisa.

A - Agora a pergunta cliché, que influências vêm de então?

R - Justamente. Muitas. Sou eclético. Podes-me pedir para dizer o que não gosto. Mas dizer o que gosto, não consigo.

A - E quando é que a música passa da assimilação à prática?

R - Olha primeiro nem foi a guitarra. Comecei na flauta. Eu nem gostava de guitarra. Mas com uns 15, 16 anos comecei a ouvir Legião Urbana e  ouvir na rua os amigos tocarem as coisas deles fez o click. Comecei a aprender na rua e logo quis comprar uma guitarra. Na altura trabalhava como auxiliar de empregado de mesa num clube e fui juntando dinheiro. Mas depois não foi preciso gastar porque minha mãe ofereceu. (risos)

A - E depois, Portugal, como se dá o salto.

R - Como muitos. Na época a vida lá era difícil, muito desemprego a vida da família não estava fácil. Surgiu a oportunidade e viemos.

A - Como foi, difícil?

R - Nem por isso. Pensei que fosse mais, até pelo sotaque, mas foi fácil.


A - Sentiste preconceito..

R - Olha, não. Fiz logo amigos. Acho que em Portugal, nem é Portugal é o Mundo, o preconceito mais forte e feio é mais com a mulher brasileira, aquela coisa que é fácil e assim. Mas dizia, vim cá fazer o 12º ano e depois fui para o Conservatório fazer guitarra. Foi engraçado porque me preparei a estudar na escola do Mestre Duarte Costa. Já velhinho. Esquecia meu nome mas não esquecia o que tinha para ensinar, isso não. Foi uma grande mais valia. E foi onde abri os horizontes para a guitarra clássica. Até ali eu só me interessava pelo rock e pelo popular, conhecia algumas peças de orquestra e assim. Mas nessa altura me fascinei com as peças clássicas de guitarra.

A - Isso tudo foi quando?

R - Cheguei em 2000. Mas pelo meio, entre 2003 e 2007 estive de novo no Brasil. O SEF me sacaneou (risos). Fui lá só para tratar de documentos, disseram que tudo bem, podia voltar com estatuto de estudante mas depois no regresso disseram que afinal Conservatório não era Ensino Superior e criaram problemas. E lá fiquei. Foi complicado. Fiz faculdade lá mas não gostei. O ensino de música em Fortaleza não era bom, não. Pelo meio houve coisas complicadas, fiquei noivo e tal. Bom mas depois decidi voltar. Na altura a minha mãe precisava de apoio no negócio dela cá e me chamou. E eu vim. Passou mais um tempo e foi quando fui para a nova fazer Ciências Musicais.

A - E o que é um curso de Ciências Musicais?

R - É uma coisa mais teórica. Tal como o nome diz, tratar a música como ciência, compreender as origens da música, observar a música de várias culturas. Entre muitas outras coisas.


A - E como é que isso te encaixa como músico?

R - Eu gosto de tocar mas também gosto, talvez mais do lado teórico, do lado de ensinar. E por isso fez-me todo sentido. Eu quando escolhi ser músico sabia que no ideal seria executante e professor.

A - E depois?

R - Bom e depois agora surge a Alfaiataria. Aventura bem bacana porque temos todos liberdade para fazer coisas, participar, criar.

A - Para terminar não te vou perguntar o que é que vais fazer na Alfaiataria porque isso é óbvio. Vou perguntar o que é que gostarias de ver na Alfaiataria como público...

R - Olha meterem xadrez e uma bibliotecazinha era bem bacana!



























sábado, 5 de julho de 2014

Começou!

A Alfaiataria abriu portas.

Noite prazenteira em que os amigos foram chegando, emboscados logo com a flauta de espumante e morangos para manter o respeitinho.

E fomos ficando, em conversas aos cantos da sala e ao fresco da rua. O Ricardo entreteve-nos à guitarra e mais para o fim da noite juntaram-se-lhe o Rui e o Pedro para tocar. Sobretudo disparates. Quando se começa a dedicar músicas ao barman a coisa está a bater no fundo, já se sabe.

 Mas antes já tínhamos tido visitas inesperadas. Além dos amigos do costume apareceram os vizinhos. Normalmente quando os vizinhos vêm bater à porta a meio da festa é mau sinal. Decerto que vêm reclamar do barulho. Mas a Graça é a Graça e por isso os nossos vizinhos o que reclamaram foi que lhes franqueássemos a porta e lhes enchêssemos o copo. Dito e feito. Temos novos amigos.

Brevemente as fotos.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Speed dating Alfaiático

Queremos conhecer melhor os nossos associados. Quem são. O que vos apraz. O que gostariam que a Alfaiataria oferecesse e, mais do que isso, o que gostariam de partilhar na Alfaiataria.

Vá lá, cliquem aqui e bora a um speed date!

Por falar em dates, o nosso próximo vai ser com uma menina chamada Isabel Ponce a quem vamos tirar as medidas.

E como a vida não se faz só de rapidinhas, vamos fazer-lhe uma entrevista tântrica.

Nos aguardem!





quinta-feira, 3 de julho de 2014

Estamos quase a inaugurar mas... ... e depois?

E depois vamos construindo lentamente a nossa entidade coletiva.

Numa primeira fase vamos estar abertos às Quartas e Quintas das 19:00 às 23:00 e das 19:00 às 2:00 às Sextas e Sábados.

Sempre na lógica de ser um ponto em que simplesmente podemos encontrar amigos, beber um copo, um café, picar uma tapa, depenicar um bolinho.

Este é o mínimo.

O demais é toda uma agenda em que estamos a trabalhar e que iremos partilhando convosco oportunamente.

Por exemplo, já este Sábado a Alfaiataria estreia-se numa que pretende ser uma das suas vocações e recebe a festa de aniversário de um dos nossos associados.

Noutra latitude é com prazer que anunciamos que acabámos de fechar um contrato milionário com o nosso augusto associado José Ricardo Araújo que estará dentro em breve disponível para lecionar aulas de guitarra a miúdos e graúdos nas instalações da nossa Associação.

Brevemente mais detalhes!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Questões que o Mundo coloca sobre a Inauguração da Alfaiataria e que o Alfinete explica

  • A que horas é?

As portas abrem às 22:00

  • Dress Code?

Fato de banho que não seja demasiado cavado/maroto nas ancas para as Costureirinhas e Casaco Príncipe de Gales com Girassol na lapela para Alfaiates. Mas se quiserem vestir qualquer outra coisa o Porteiro é tolerante.

  • Há consumo mínimo?

Não há.

  • Há paparoca?

Não quer dizer que não possam aparecer umas coisinhas na mesa. Mas se eu fosse a vocês vinha jantadinho de casa.

  • Há Multibanco?

Há, sim senhor! Um no fundo da rua a escassos 100 metros.

  • A entrada é reservada a membros ou podemos levar amigos?

A política da Alfaiataria é de que os convidados dos sócios são nossos convidados. Podem, portanto.

  • Vendem tabaco?

Olhem, até era boa ideia! Vamos pensar nisso para o futuro. Mas desta vez tragam o vosso.

  • Pode-se fumar dentro da Alfaiataria?

Não se pode, não senhora!

  • Vai haver pé de dança ou nem por isso?

Haja espírito e talvez se arranje qualquer coisinha...

  • E a que horas somos postos na rua?

Quando começarem a ser horas e restarem meia dúzia de chatos encostados ao balcão a contar as mágoas ao barman, fechamos. Mas se forem rápidos a sair não ficam fechados lá dentro. 




segunda-feira, 30 de junho de 2014

Todos os caminhos vão dar à Alfaiataria

Que, já se disse, é na Graça. Para os que se quiserem localizar melhor, é naquela rua que sobe das traseiras de Santa Apolónia em direção ao Quartel de Transmissões da Graça. Para os que se quiserem localizar ainda melhor ide ao Google Maps.

Agora a questão sacramental: é díficil de estacionar?

Nim! Tem dias...

Para ajudar deixamos um mapazinho em que destacamos algumas opções de estacionamento em que com alguma probabilidade terão sorte e que não distem da Alfaiataria mais do que o razoável para se fazer o resto do caminho a pé.


Capelas imperfeitas ou "E não é que se calhar estamos prontos a tempo?"

Prontos, prontos, jámé. Até porque violentaria a natureza da Alfaiataria ficar pronta já e só assim.

A Alfaiataria iremos fazendo. Convosco. Falta quase tudo. Falta ter-vos cá e falta que encontremos juntos imaginação para encher os dias e as noites. Mas lá chegaremos. Por enquanto é o nosso cantinho que vai ficando tão pronto como uma tela branca pode ficar. O resto, já se disse lá chegaremos.

Mas dia 4 de Julho, já se disse, inauguramos. E inauguramos com pompa e circunstância? Uma grandiosa festa com anões, mulheres e cavalos? 

Não...

Então?

Dia 4 de Julho abrimos a porta para que se inaugure o, esperamos, bom hábito, de rumarmos à Graça e à Alfaiataria para estarmos juntos. Para apresentar o espaço a amigos e membros como quem dá a primeira pincelada na dita tela branca ainda sem saber muito bem como resultará no fim. Noite descontraída e que creio que é seguro dizer que não faltarão brindes e muito mais que dois dedos de conversa.

Amanhã haverá mais detalhes.

E por ora ficam mais algumas fotos da nossa capelinha imperfeita.





        




















domingo, 22 de junho de 2014

As Medidas de... ... Nuno Lumbrales

Entrevistámos o Nuno Lumbrales. Foi na Alfaiataria ainda à porta fechada numa conversa intimista embalada a vinho do Porto. Quisemos saber um pouco sobre o Nuno, um tipo que hesitamos em catalogar como um conservador progressista ou um progressista conservador. Mas uma coisa é certa, se fosse um personagem da Guerra dos Tronos seria Sir Lumbrales, Defensor do Reino e Assador de Chouriços.

E foi assim...



Alfinete - Vamos começar pelo princípio. Infância. Sabemos que nasces em Dezembro de 76. És Sagitário ou Capricórnio?

Nuno Lumbrales - Sagitário

A-Ligas a signos

NL-Nem por isso

A- Ainda assim, és um sagitário típico

NL-Sim, acho que sim.

A- Em quê?

NL- Talvez na reflexão

A - E de resto?

NL - Cresci em Lisboa. Primeiro quando os meus pais ainda viviam com os meus avós junto ao Técnico, depois ao pé do Campo Pequeno.

A - És menino das Avenidas Novas então

NL - (risos) Sim, sou. Bom, é isso. Estudei no Sagrado Coração de Maria.

A - Estudar lá é muito diferente da Escola Pública?

NL-Não sei bem porque não tenho o termo comparativo. Mas suponho que fossemos mais controlados. Era tudo mais formal.

A - E crescer nessa altura, ali entre os anos setenta e os anos noventa era muito diferente de hoje?

NL - Acho que era um meio termo. Não tinha esta coisa mais fechada de hoje em dia mas também já não foi aquela infância da rua que os nossos pais tiveram.

A - Depois vem a faculdade. Porquê Direito?

NL - Porquê Direito? Foi uma coisa que me deu que pensar no 9º ano. Eu era um tipo de notas equilibradas quer nas Letras quer nas Ciências. Não sei, talvez os meusinteresses se inclinassem mais para aí...

A - As letras. E o Direito mais em específico?

NL- Havia tradição na família mas acho que nem foi isso.

A- Foi para fugir à matemática?

NL - Não, a Matemática pedia-me mais esforço mas não foi por isso.

A- Foi pelos filmes?

NL- Também não.

A - A Advocacia não é como os filmes, pois não?

NL- Não é.





A advocacia real não é como nos filmes. A rotina é mais comezinha








A - O que é que é diferente?

NL- São filmes. A rotina é mais comezinha. Não é sempre aquela emoção dos grandes casos. Bom, os filmes são quase sempre sobre o Direito Anglo-Saxónico que é diferente. Mas nem o Direito Anglo-Saxónico é assim.

A - Mas tu querias ser advogado...

NL - Eu nem queria ser advogado. A minha ideia era depois fazer jornalismo. De investigação. Algo assim. Acho que só mais para o fim do curso é que comecei a pensar que se calhar advocacia fazia sentido. E acho que só depois do estágio ter corrido muito bem tive a certeza.

A - E esse momento de sair da faculdade e cair na vida prática, como foi? É uma carreira em que a responsabilidade pesa. Como é esse choque?

NL-Sim, em Direito há sempre resposabilidade, independentemente do valor, mas sim, claro. Há casos mais melindrosos. Eu não senti tanto essa pressão inicial porque estagiei numa estrutura muito boa e preparada. Havia muito controlo sobre tudo.

A- Estagiaste e fizeste carreira numa grande sociedade.

NL - Sim, ainda foram 9 anos.

A - Mas depois saíste...

NL - Saí e montei a minha pequena sociedade junto com o meu pai. Basicamente reiniciámos o escritório que ele já tinha.

A - E agora uma pergunta provocatória. És portanto um empreendedor. E a pergunta é provocatória porque sei que pelo menos alguns dos teus colegas não gostam que se fale de um advogado como empresário. Pensas assim?

NL- Bom a advocacia é uma atividade muito particular. Trabalha uma área muito sensível e tem um enquadramento muito específico. Não é uma qualquer empresa comercial, isso não. Mas lato sensu, claro, é uma empresa, é uma atividade económica.

A- Mas porque é que a Ordem dos Advogados é tão conservadora? Pensemos por exemplo na medicina. Se o Grupo Mello quiser fazer um outdoor com uma médica bonita pode. Mas se tu quiseres filmar um anúncio sexy vais ter problemas como as outras moças. Isto faz sentido?

NL- Eu não conheço o Estatuto da Ordem dos Médicos. Suponho que seja mais permissivo ou pelo menos interpretado de forma mais permissiva. Não sei. Mas de facto a Ordem dos Advogados é conservadora.

A-E isso faz sentido?

NL- Acho que se podia rever alguma coisa. Mas com prudência.

A-Porquê?

NL-Porque é mais fácil ir abrindo aos poucos um pouco mais a porta do que fechar uma porta que se abriu em exagero.

A - Olha, vamos falar de política. Gostas de política.

NL- Sim.

A - E como te situas?

NL - Não sou alguém com uma ideologia muito definida. Considero-me um moderado de Direita. Alguém que acredita neste sistema mas também acredita que há muita coisa que podia ser corrigida.

A - E o que é isso de ser moderado de direita?

NL - É acreditar nas liberdades e autonomias dos privados como o melhor motor de progresso. Crer que não deva haver um Estado gigante que se imponha. Mas ao mesmo tempo que esse Estado deva ser relevante. Como garante da Ordem, dos Direitos fundamentais. Um estado facilitador e um Estado com alguma componente de correção dos desiquilíbrios e incapacidades de subsistência mais críticos.

A- E afinal o que é que distingue a esquerda da direita?

NL-Nos modelos moderados é mais uma diferença de grau na ponderação entre iniciativa privada e intervenção estatal, sem colocar nenhuma em causa do que propriamente uma cisão ideológica.

A - E a política ativa como a vês?

NL- É importante, sobretudo se queremos depois ter créditos para criticar. A participação em alguma medida é importante.

A - Já pensaste em fazer política?

NL - Sobre isso sou ambivalente. Sim atrai-me. Mas depois tenho dois problemas: tempo para tal e o medo que no fim de contas desse por mim perdido sobretudo em discussões um bocado inconsequentes para os problemas realmente importantes.



 Mas depois temos na política como em todo o setor público uma questão sistémica de ineficiência. Em quase tudo o privado é mais eficiente.

 




A-Temos maus políticos?

NL-Teremos bons e maus. Prefiro pensar que os bons são mais. Mas depois temos na política como em todo o setor público uma questão sistémica de ineficiência. Em quase tudo o privado é mais eficiente.

A-Porque é que achas que isso sucede?

NL- Porque os privados têm a verdadeira necessidade de serem viáveis. Quando uma gestão corre mal a empresa extingue-se. No público a má gestão é inconsequente porque o Orçamento de Estado pode sempre por a mão por baixo.

A- E este Governo vai no caminho certo?

NL-Alguma coisa tinha que ser feita. Suponho é que houvesse muitos caminhos. O deste Governo pode não ter sido perfeito.

A - Consegues dar-nos uma opção boa e uma má deste Executivo? Meros exemplos...

NL- Olha a função Pública. Eu não digo que as medidas concretas fossem as melhores ou as mais justas. Mas algo tinha que ser feito e a coragem dessa reforma é positiva.

A - E um erro?

NL - Não se terem atacado coisas como as PPP e outros interesses. Não necessariamente pelo impacto financeiro mas pela moralização subjacente.

A - E porque é que o Governo não fez isso?

NL - Isso gostava eu de saber!

A - Agora vamos falar um pouco mais de ti. És um homem de fé. Católico...

NL- Sim, sou. Fui educado como católico. E mantive sempre a fé. Enfim, há quem se afaste, claro. Simplesmente porque sim. Porque conclui que não acredita em nada daquilo. Eu acredito em Deus, acredito nos princípios. Sinto-me bem com a minha fé.


 (...)digo que senti Deus. É claro que também já senti o Seu silêncio. Mas ele faz parte (...)







A - Já alguma vez sentiste Deus, ou enfim, sentes Deus?


NL- Já senti. Quem não tenha fé chamar-lhe-à talvez outra coisa qualquer. Mas eu como tenho fé digo que senti Deus. É claro que também já senti o Seu silêncio. Mas ele faz parte, aliás não te posso falar muito sobre isso até por impreparação mas há mesmo muita doutrina canónica justamente sobre isso. O silêncio de Deus.

A - E sobre a Igreja atual o que nos dizes?

NL - É uma estrutura muito conservadora mas com passos positivos de evolução.

A- Tens um Papa favorito?

NL- Nao "vivi" muitos. Gostei muito de João PAulo II. Um homem conservador mas inspirador e que inspirava bondade. O Ratzinger tinha-o como mais fechado, menos simpático. Acabou por me surpreender pela positiva. Agora temos este. Menos conservador, também inspirador. Gosto dele e tem feito coisas corajosas como atacar a corrupção dentro da Igreja.

A- E mais da tua vida privada?

NL - É privada! (risos)

A- Conta lá.

NL - Pacata. Gosto de Desporto embora hoje já só futeboladas de amigos. Gosto de jogar um jogo baseado no «Game of Thrones». De ler embora ande a ler muito pouco.

A - Pergunta cliché: livros favoritos

NL - Sobretudo romance histórico. O Primeiro Homem de Roma é a grande referência. Depois também cito sempre Sun Tzu. Um manual de estratégia militar antiga cheio de ideias atualíssimas para a gestão atual.

A - E como é que um gajo como tu da advocacia vem parar a esta salsada da Alfaiataria?

NL - Culpa tua! (risos). Isto começou com uma aventura com um grupo mais extenso de amigos que queriam inventar um negócio.  Pelas inclinações pessoais da maioria a área de eventos resultou óbvia. Mas a coisa foi evoluindo, foram todos saindo até que ficámos eu e o Rui Azevedo e a evolução do Projeto que é a Alfaiataria.

A - Tens a Lumbrales & Associados e agora a Alfaiataria. É difícil  empreender em Portugal, a este nível da start up?

NL - É complicado. Tens que ter juízo. Planear bem, evitar megalomanias. Perceber se aquilo que queres fazer tem mercado e se tens capital ou financiamento suficiente para o projecto. E, claro, também se tens o know how. Meteres-te de cabeça em algo sobre o qual não saibas nada é má ideia. E no fim de tudo ter um plano B. Ou seja um plano de fuga se a coisa correr mal. Saber sair a tempo e estancando as dívidas se for necessário.

A - E o Estado ajuda?

NL - Claro que não! (risos) O Estado regral geral só complica. Com um IVA e um IRC que tens que pagar cobres ou não a fatura, com licenças para tudo e mais um par de botas, etc...



 O que mais me motiva na Alfaiataria é o lado do Clube. Criarmos um sítio, um ponto de encontro um pouco mais intimista. Onde se saiba que param os nossos amigos e onde estamos todos em casa.




 A - E o que é que mais te motiva na Alfaiataria?

NL - O lado do clube. Criarmos um sítio, um ponto de encontro um pouco mais intimista. Onde se saiba que param os nossos amigos e onde estamos todos em casa.

A - Então na Tag de Grémio de Artes e Relações metes a sílaba tónica nas relações.

NL - Nas artes também. Sobretudo porque ao sermos um clube embora haja ali uma velocidade de cruzeiro como bar podemos fazer tudo aquilo que quisermos, e essas actividades também vão acabar por ser definidas pelos gostos e inclinações dos vários sócios que forem entrando.

A- Por falar em expressão. Uma sócia  nossa amiga comum dizia-me no outro dia divertida que uma das curiosidades dela era ver o Dr. Nuno Lumbrales a tirar bicas e agitar cocktais. Isso leva-me a uma pergunta, que talentos especiais do Dr. Nuno Lumbrales poderá a Alfaiataria mostrar ao seu público?

NL - Bom, assim à partida...       Assar chouriço! Podem aparecer aí mais umas coisas. Mas assar chouriço, isso de certeza!

sábado, 14 de junho de 2014

A Alfaiataria inaugura a 4 de Julho de 2014!


A inauguração aproxima-se. 

Está tudo pronto? 

Não está, não senhora! 

Mas em pior estado o Brasil também inaugurou a Copa do Mundo! 

E por isso, olha, dia 4 de Julho há festa! Só para que saibam...     

Ainda não sabemos exatamente como será, é certo e confesso. Mas vai ser!




A Sala de Café Concerto é por enquanto aquela que ainda vai mais atrasada. Mas a verdade é que o barulho das luzes é uma coisa mágica. Ninguém diria!













Seja como for já começa a aparecer a artilharia de palco. Em breve começamos a dar música à Graça










Entretanto no andar de cima também se começa a preparar duas coisas essenciais ao conceito.



A Cozinha que espera por Alfaiates que se afoitem a mostrar os seus talentos culinários à restante congregação...













...  e pinga, claro.






Entretanto na Área Lounge continua com paciência de chinês a "Operação Botão".


Estima-se que faltem 2.343.434.009 botões até à inauguração.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

BBC, Graça Selvagem


A Alfaiataria vai ser na Graça. Numa dessas ruas típicas e íngremes da Lisboa castiça. Sobretudo se é Verão. As tasquinhas abanam as brasas nos fogareiros à porta. Homens de tronco nu à janela a esfumaçar, velhinhas debruçadas a espionar cá para baixo. Fala-se de janela para janela, a idosa do segundo andar com a do R/C e o homem barrigudo para o tipo mais novo que mora em frente. "Então, bandido, já estás a beber uma, né?". Isto sim, é a rede social. O Facebook é para meninos.


Vou entrar na Alfaiataria. As mulherzinhas à janela tiram-me as medidas. Aceno-lhes com um sorriso. Retribuem. Eu entro e elas porque talvez pensem que já não ouço ou simplesmente não se importem ou mais do que isso tenham esperança que as ajude retomam o palranço.


- Abre quando?
- Não sei.
- E vai ser o quê?
- Olhe parece que uma pizaria...
- Ai uma pizaria! E como sabe?
- Olhe ao certo não sei. Mas é o que se diz.

Sejamos bem vindos à Graça.

Alfaiates e costureiras. Tirar medidas, corte e costura e coisas assim.

Faz sentido, ai não que não faz!


NOTA EDITORIAL - Aos mais atentos que esperavam a entrevista com Nuno Lumbrales em vez deste apontamento crónico, vão ter que esperar mais uns dias que o texto foi ao lápis azul...

... passamos a explicar...

No dia seguinte à entrevista o Alfinete foi contactado pelo advogado de Nuno Lumbrales que laconicamente nos informou que o seu cliente tinha bebido demasiado Porto durante a entrevista pelo que exigia rever a mesma antes da sua publicação uma vez que julgava ter sido demasiado entusiasta em algumas afirmações.

Esperamos no entanto publicar o texto brevemente. Provavelmente, tememos, já sem a parte deliciosa em que ele dizia que se fosse Primeiro Ministro mandava deitar fogo ao Estádio da Luz para assar lá chouriço.




segunda-feira, 9 de junho de 2014

Making of - Parte II




O Décor da Alfaiataria vai ganhando forma! Com tiques chics num cenário retro e tudo salteado num glamour em que nada do que luz é realmente ouro.

Mas o dinheiro não traz felicidade! Porque felicidade a sério vai ser a área lounge da Alfaiataria!





À direita o Lounge Chocolate...














e à esquerda o Lounge Celeste...



Depois na ala seguinte do clube temos a ante-câmara do salão dos comensais onde já está a postos a tábua de tapas e demais petiscos onde a Alfaiataria garantirá aos seus Membros momentos bem passados.




E por bem passados queremos mesmo dizer bem passados!

Porque a Produção da Alfaiataria se está a esmerar nos detalhes...



...mas no entanto, há que dizer com toda a frontalidade que...






A obra ainda está incompleta.







Brevemente...

As medidas de...          

Nuno Lumbrales!