quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Alfaiates, procuram-se!



A Alfaiataria precisa de ser mais para fazer sentido ser aquilo que imaginámos! Faltam vocês!

A brincar, a brincar vamos a caminho do primeiro aniversário. E foi gratificante transformar o snack bar manhoso "Sonho do Tony" na Alfaiataria, com os seus dourados, máquinas de costura, ferros de engomar e botões por todo o lado! Criou-se uma sala de convívio, criou-se um palco. Vieram as nossas tostas vencedoras e as pizzas que acabaram por ficar redondas e os hamburgueres e as jantaradas de aniversário. Pelo meio nasceu a banda dos Alfaiates com as suas covers de baínhas subidas e pelo meio criou-se o Grupo de Teatro que já está a ensaiar a sua primeira peça.

Mas é preciso mais!

A Alfaiataria foi pensada como o espaço para todos podermos fazer coisas, convivermos, exercermos os nossos talentos. Uma associação cultural. Estarmos juntos, fazermos coisas juntos!

E é mesmo preciso mais e ficamos à espera que se juntem a nós.

A começar por aqueles com quem já falámos e disseram que 

"Epá havemos de fazer!" ...           

 ... "Olha, eu podia aí fazer!" ...           

  ... e que ainda não saíram da letargia de na prática não fazer nada.

Mas há mais! Todos aqueles que não sonhamos que podiam vir enriquecer a Alfaiataria com os seus hobbies, com os seus talentos. Com os seus skills profissionais, claro! Pessoas que não sonhamos que sabem e gostam de fazer coisas. Pessoas que ainda nem conhecemos e que ainda não nos conhecem a nós mas que faria todo o sentido que nos conhecêssemos todos...

... na Alfaiataria!

Falem connosco! A Alfaiataria quer ser o espaço que tantas vezes nos faz falta para fazer "cenas". E agora já existe e vocês estão a molengar! Os artistas da cozinha, os plásticos, os músicos, os atores, os especialistas no sexo dos anjos e em tudo e em nada. Mestres do yoga e do tai chi e da costura. Os amantes de tertúlias e os inconfessos sindicalistas da guitarrada e do karaoke, do lançamento do dardo e da malha, do brainstorming do brinde. Em suma, das Artes e Relações que a Alfaiataria quer ser!

Falem connosco!

Juntem-se a nós.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Vai ser muito fácil vir à Alfaiataria

Capítulo I - Porque é que a Alfaiataria tem uma localização complicada? Alguns mitos e a verdade dolorosa de que a Rua do Vale de Santo António é para valentes


Vamos lá ser francos. A Alfaiataria tem uma localização tramada! Provavelmente dizer isto vai contra todas as regras do discurso de Marketing mas que se lixe, tem...     Porquê?



  • Para quem venha de carro não é o sítio mais fácil do mundo de estacionar.Também não é o pior. Não é mais complicado do que um Bairro Alto ou um Príncipe Real bem pelo contrário, e ademais aqui o estacionamento é grátis. Mas o facto é que há dias levados da breca em que não, não é fácil...            Ou não era! Já lá vamos...

  • É fora dos clusters habituais da ronda dos petiscos e dos bares. Isso assim de repente nem é necessariamente mau. Para quem dispense o banho de multidão a acotovelar-se numa comunhão suante e gritante supomos que a Alfaiataria seja uma muito melhor opção. Mas de facto quando apetece o rally das capelinhas de porta em porta não é propriamente fácil para quem nos venha visitar depois continuar a noite em outra direção qualquer. Ou não era! Já lá vamos...
  • A Rua do Vale de Santo António é um petisco íngreme de se subir a pé. Não que a subida seja muito longa mas é desafiante e basta olhar para o ar de sofrimento "deitei os bofes pela boca" e orgulho pelo feito dos que cá chegam à porta para perceber que assim é. Também nos ocorre dizer que o resto da cidade também raramente é plano mas nada disso implica que por aqui não seja sempre a subir. É! Bom, e vai continuar a ser mas isso vai passar a interessar pouco. Também já lá vamos...

  • Finalmente é longe de tudo, fora do centro da cidade. Longe p'a caraças! Bom, nunca foi, continua a não ser e isso é um disparate mas também já lá vamos.

Capítulo II - Porque é que isto vai mudar num twist espetacular que fará da Alfaiataria o Shangri-La da acessibilidade?

Não vamos demolir a Estátua do Marquês de Pombal para meter lá algo mais útil ao povo como a Alfaiataria. Até seria lógico. Mas não vamos.

Não vamos abrir lojas em cada esquina que nem cogumelos. Pelo menos, não para já. Para o ano, quem sabe?

E então?

Vamos conceder aos nossos associados e seus convidados 3 serviços catitas que farão dos serões na Alfaiataria uma experiência supimpa - mas isso já era - e extremamente acessível.

Vamos lá então...


Expresso da Alfaiataria

A Alfaiataria disponibilizará dentro em breve um serviço de cortesia de recolha e devolução dos seus associados num dos seguintes 4 pontos:
  • Traseiras de Santa Apolónia - Ideal para quem chegue até nós de Metro ou estacione num dos vários parques circundantes à zona de Santa Apolónia
  • Porta do Quartel de Transmissões da Graça - Ideal para quem chega à  zona de Sapadores num dos vários autocarros que aí convergem
  • Miradouro da Nossa Senhora da Graça - Ideal para quem chega de elétrico ou começou por apreciar o fim de tarde por esses lados antes de vir até à Alfaiataria para jantar ou beber um copo.
  •  Feira da Ladra - Ponto ideal pela facilidade de Estacionamento gratuíto para quem venha de automóvel

Jarbas da Alfaiataria

Será igualmente um serviço de recolha e devolução que abrangerá uma área de sensivelmente 8 km em torno da Alfaiataria.


Guia Nativo

Estacionar nas imediações da Alfaiataria não permite milagres de inventar estacionamento onde não há mas tem muitos tesourinhos escondidos para quem conheça bem a zona. Para aqueles que sejam mais tenrinhos então é parar à porta e requisitar um Alfaiate para lhe mostrar os segredos mais secretos das ruas aqui bem perto onde com alguma facilidade vão conseguir estacionar. Depois fazem um pacto de silêncio e pronto, está feito. Este serviço será absolutamente grátis mas um abracinho ao Guia será bem vindo.


Capítulo III - Possibilidades prodigiosas!


Vir à Alfaiataria vai ser uma experiência cómoda. Sem problemas de estacionamento. Sem caminhadas desafiantes. Melhor, porque não pedir que nos venham a casa buscar e trazer de novo? E poder beber mais aquele copo sem tentar adivinhar onde está a Operação Stop. Ou então não, a noite é ainda uma criança e a Alfaiataria fecha a loja por hoje mas nós não. E é fácil. Em vez de ser em casa pedimos que nos deixem na próxima paragem do Rally das Capelinhas! A Alfaiataria já não se responsabiliza com o que venha depois, é certo...           ... mas vamos na mesma!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Coisas de velhos

Eu tenho que confessar. Não que tenha tido a certeza mas ocorreu-me, imbecil, a possibilidade, que ainda se vendesse.

Mas a história do início, claro...

Andava às voltas com a Alfaiataria e achei que era porreiro organizar noites de Risco. A verdade é que fico nostálgico de sermos putos e nos reunirmos em tardes inteiras em casa de uns e outros a jogar Risco. A mãe de serviço faria o lanchinho e nós ficávamos horas naquilo, a conquistar a Europa do Sul e a fazer alianças para derrotar o sacana que  estava quase a cumprir o seu objetivo. Havia o meu primo Miguel que fazia birras quando sentia alianças contra si e chorava baba e ranho da injustiça do complot.

Tenho realmente saudades de ter com quem jogar. Nunca percebi a piada de serões de sueca e depois quando apareceu a playstation e os gajos passaram a jogar PES ou FIFA também não me deixei tentar.

Eu gostava era de Risco!

E de repente pensei: porque não passar do Risco a algo um pouco mais elaborado que a métrica simples desse jogo? O "Risco da Alfaiataria" ainda sem nome definitivo!

A ideia entusiasmou-me e num rasgo clarividente criei as regras que me pareceram bem, ponderei como fazer o tabuleiro de jogo o que também não me criou grandes problemas.

Até que me ocorreu o problema: então e as peças?

E lembrei-me daquela bonecada em miniatura da II Guerra, em pvc, sabem? Ah, os moços da minha geração têm que saber! Os alemães eram azuis escuros, os ingleses, laranjas, os americanos verde alface. E depois havia ainda japoneses, australianos e uma data de coisas mais exóticas que eu não tinha porque o meu exército era modesto. Mas ainda me lembro das posições de combate em que cada exército vinha: o oficial alemão a apontar a Luger, o americano deitado no chão a apontar a espingarda de assalto com tripé ou o outro boche a atirar uma granada. Eu preferia a bonecada que vinha em posição de tiro em detrimento dos que trazia a arma à tiracolo ou assim. Nas minhas guerras quinavam sempre primeiro. E outra coisa que me fazia confusão era porque é que os britânicos eram sempre mais franzinos. Bom! Tudo isto para dizer que esta bonecada me marcou.

E pelo meio distraí-me de que passaram 30 anos e o Mundo mudou. E deve ter sido por isso que por segundos me ocorreu a possibilidade imbecil que ainda pudessem vender-se tais coisas.


Não vendem, só no OLX, quais antiguidades - credo - o principal fabricante faliu e foi comprado há muitos anos por outro grupo qualquer.

E pronto, se alguém tiver bonecada desta velha que queira doar à Alfaiataria, os futuros serões de "Risco" agradecem.

Era só isto...




quinta-feira, 28 de agosto de 2014

As medidas de... ... Isabel Ponce

A Ponce tardou mas não falhou e deu-nos uma entrevista, tântrica, de tempos lentos, doces e intimistas. As horas escorreram pelas paredes da Alfaiataria nessa conversa labiríntica de encruzilhadas como se cerejas fossem. Falou-se de tanta coisa e às tantas eu pensava para mim que desta vez ia ser lixado este meu método de simplesmente memorizar a entrevista. A Isabel sorria sempre, olhos húmidos. Que pensaria para ela? Que o incompetente do brasileiro se tinha esquecido de lhe colocar queijo na tosta de frango? Provavelmente...


A - Do início, tu vens de onde, Isabel?

I - Olha, nasco em Lisboa. E a primeira coisa que retenho é uma primeira infância muito, muito feliz. Uma família unida como depois nunca mais tive. Alargada, à antiga. Vivia com os meus pais, avó e tia e são recordações maravilhosas de aconchego. Mas depois veio o 25 de Abril. Que trouxe tudo de maravilhoso que sabemos mas que a mim me destruiu a família. Tínhamos uma casa de férias na Sobreda da Caparica. Depois da Revolução sempre que não estivéssemos lá alguém ocupava a casa. E por isso os meus pais decidiram que alguém tinha que lá viver e mandaram para lá a minha avó, a minha tia e eu. Aí tudo mudou. Eles ficaram em Lisboa. Trabalhavam muito e sobretudo depois do 25 de Abril a empresa entrou em falência e tudo se complicou mais. E por isso fiquei meio orfã a crescer sem os meus pais, lá na Sobreda, com avó e tia. Foi aí que se perderam uma série de referências. E é uma coisa que me marca até hoje e que racionalmente talvez já entendas mas emocionalmente ainda não. Porque é que os meus pais me abandonaram com aquela idade?

A - Tudo mudou...?

I - Tudo mudou. Primeiro porque me tornei uma pequena selvagem que vivia ao Deus dará. Literalmente. A Sobreda da Caparica era um pouco a selva comparada com Lisboa. Quintas, casas de férias, um ambiente meio clandestino para onde já no Estado Novo se fugia para libertinagens interditas, meio artístico, homossexualidade, etc. E uma vizinhança pobre de miúdos humildes que chumbavam, chumbavam, chumbavam e depois iam trabalhar. E a Isabel a crescer ali à balda. Hoje rio-me e recordo esse período como se fosse saído do Livro da Selva, ou o Tarzan ou assim. Uma vez o Circo chegou à terra e eu estive com eles até irem embora. Era assim, foi assim até voltar para Lisboa e ter quase que ressocializar.

A - Voltas para Lisboa quando?

I - Com 12 anos. Bom e o Deus dará de pais ausentes continuou. Só nas saídas à noite era controlada. De resto tinha os disparates todos à disposição. Ainda por cima estava no D. Diniz, um dos piores liceus de Lisboa. Era tempos diferentes, agitados. Havia violência nas escolas, droga, agitação política, era uma juventude muito politizada e era tudo meio louco. Viver nisto solta tinha tudo para dar mal. Não deu. Foi o meu anjo.

A - Como é que eras em miúda?

I - Diferente do que sou hoje. Não, não é verdade, ainda sou o que era. Mas agora é um traço mais intimista da personalidade que está menos na montra. Era introspetiva, sequiosa de ler, de cinema. E tive sorte. Conheci pessoas muito interessantes que me infliuenciaram. Professores de liceu, amigos que eram muito diferentes de mim e em que podíamos ser de várias tribos urbanas mas partilhávamos, éramos amigos e tudo funcionava muito bem. E a Isabel sempre ao Deus dará a fazer o que faz até hoje, sem família e a procurar família nos amigos e nas famílias dos amigos.

A - Que balanço fazes hoje dessa "orfandade"?

I - Primeiro que me marcou em carência. Essa incompreensão que dura até hoje. Ficou a faltar o lado bom dos valores familiares. Não sou uma tradicionalista mas aprecio algumas coisas da tradição. O conceito de família é uma dessas coisas. Por outro lado soltou-me. Para ver o mundo sem o embaraço daqueles preconceitos em que os pais acabam sempre por nos condicionar. Aceitar pessoas diferentes, não julgar, não ser preconceituosa e dar muito, muito valor aos meus amigos.

A - Os amigos são essenciais na tua vida, não são...

I - Rui Pedro, os amigos são em muitos casos a minha família e rego-os como um jardim grande e aprimorado. Há pessoas que dizem que ninguém tem mais do que dois ou três amigos verdadeiros. Disparate. Se te deres, se regares podes ter muitos e bons amigos. Mas tens que investir, claro. E eu tenho muitos e diferentes. Olha, a Ana Lourenço que nem vejo muito mas que não me perguntes porquê é das que mais falta me faz se estou em baixo. O Zeller, que enfim, o Zé é o Zé, devolveu-me Lisboa. O Filipe, a Fi. Amigos muito antigos, amigos que deixei no Brasil. O Miguel! Eu tenho muitos amigos!

A - Vamos na tua adolescência...
I - Depois casei. Novinha. O meu primeiro marido era piloto da Força Aérea. Início de romance belo.e absoluto de cartas trocadas. Por ele fui viver para o Texas. Odiei, o Texas e eu não temos nada a ver. Foram três anos horríveis. Quando regressamos a divergência de vidas agudiza-se. Ele é colocado em Beja com os F16 acabados de chegar e eu arranjo um empregaço. Grande sucesso, ordenadão, roda viva entre Lisboa e o Porto. Pelo meio o casamento acaba. É algo que lamento até hoje, ter magoado o meu primeiro marido.

A - Voltas a casar?

I - Duas vezes. (risos). Primeiro com o Pedro. O homem mais maravilhoso que conheci. Tinha sido meu professor quando estudei Direito. Eu estava a viver o meu auge. Trinta e poucos anos, carreira de sucesso, uma vida social infernal, o culto do corpo. E tinha o Pedro comigo e o Pedro era fantástico. Mas depois sucede algo. O Pedro chega ali a uma fase, a uma espécie de crise de meia idade que o tornou mais reflexivo, mais reservado. E eu infelizmente fui imatura, não soube perceber, esperar. Perdi-o. Mas estamos a falar de um gajo tão maravilhoso que ficou um melhor amigo até hoje. Mesmo no calor da separação esteve sempre lá para mim.

A - Não há duas sem três...

I - Conheço o Miguel e caso quase de seguida. É aqui que a história entronca no marco brutal de Arraial D'Ajuda. O Miguel tinha uma filha, a Carolina que é até hoje a minha filha emprestada e adorada. A mim incomodava-me o pai do Miguel viver no Brasil e não conhecer a neta. E contrariada fui eu que pressionei para irmos passar férias ao Brasil.

A - Contrariada porquê?

I - O Brasil não me dizia nada. Nada mesmo. Nem para férias. O Miguel chegou a falar-me em morarmos lá. Impensável. Até que fomos de férias. E não te sei explicar. Aterrei em Porto Seguro e odiei. Mas depois ia na balsa a atravessar o rio para o outro lado. E...          ... não sei explicar. Ainda estava a ver aquela margem ao fundo e senti uma comoção inexplicável. Dizem Que Arraial D'Ajuda ou te abraça ou corre contigo. E se te abraça não te deixa ir embora. E a mim abraçou-me. Com tanta, tanta, tanta força. Aqueles dias foram mágicos. Tanto que ainda no avião de regresso a Lisboa pergunto ao Miguel. "Miguel, e se largássemos tudo e viéssemos para cá?" E foi o que fiz. Larguei tudo. Emprego, vendi bens, dei bens. Foi tudo. E fui para lá.

A - Como foi?

I - Olha o casamento acabou em meses (risos). Mas eu fiquei. Como explicar? Foi o desapego de tudo. Tinha largado tudo, estava só. Claro que não passava dificuldades, vivia de rendimentos, num condomínio privado em frente à praia. Mas com muito menos do que alguma vez tinha tido. Sem as roupas e os cremes e os saltos. Bikinis, cangas, chinelos. E as pessoas, sobretudo as pessoas. Tive um acolhimento mágico. Fiz tantos amigos. Em algumas coisas ali é tudo frugal. Vais comprar um vestido preto? Vais comprar da cor que houver e se calhar nem precisas. Vais cozinhar bacalhau? Vais cozinhar o que houver no mercado e bacalhau na volta só para o mês que vem. E eu curei-me do consumismo e do querer ter muito e essa lição não esqueci mais. Aprendi a dar-me com aquela gente. Aprendi que não precisas de gel para tomar banho e que um pobre só dorme com fome na rua se ninguém lhe abrir a porta. As portas estavam sempre abertas. Os braços estavam abertos. Aprendi a abraçar que nem louca, a dizer o quanto gosto de ti. Aprendi a gostar do meu corpo e que não é por ter celulite ou não que sou bonita ou feia.

A - É nessa altura que conheces o Zé Van Zeller?

I - Não! Eu não conheci o Zé lá! Foi mais engraçado que isso. Fui um dia com o meu sogro à pousada dele e que estava a ser explorada pelo "ex". E fiquei boquiaberta com aquilo. Achei graça porque o outro dizia que o conceito era sobretudo dele. Mas era óbvio que não. O tal Zé, o que se tinha vindo embora era obviamente o mágico que tinha criado toda aquela obra prima. Tanto que cheguei a casa e disse ao meu sogro "Olha, cá entre nós, eu gostava era de conhecer esse Zé, o que voltou para Portugal." - E conheci. Ainda troquei uns emails com ele em Arraial. E quando voltei para Lisboa encetámos a nossa maravilhosa amizade.

A- Voltaste porquê?

I - Porque lá aprendi a simplicidade em tudo menos numa coisa. Cultura. Ter acesso à cultura. Aquilo era muito pobre e às tantas percebi que tinha que sair de lá rápido ou aceitar ficar para sempre e ir-me tornando "naquilo". Naquela simplicidade.

A - Voltaste lá entretanto?

I- Não...

A - Pensas e voltar?

I - Muito...           ... mas morro de medo. Foi muito intenso.

A - Pergunta cliché antes de retomarmos a atualidade dos dias de hoje em Lisboa. Uma coisa que te orgulhes muito e uma de que te arrependas?

I - Dos orgulhos tenho dificuldade em falar porque são histórias que expõem outras pessoas. Mas há uma. (hesita). Bem eu no fundo não me importo que as pessoas saibam...     ... tentei-me suicidar. A beleza não foi nisso. Foi em ter ganho a luta que me fez acordar de cinco dias de coma. Fui ao outro lado e senti o abraço da morte. E tive a coragem para a guerra mais dura da minha vida que foi voltar.

A - Há o outro lado?

I - Acho que sim. Eu não sou católica. Mas sou mística. Cheia de contradições de coisas cristãs, pagãs, espirituais, santinhos, anjinhos, energias. E há. Eu senti-o. E não foi bonito. Não foi bonito para mim. Acho que a morte não gosta de meninas, gosta de almas maduras. Não me queria e eu é que me lancei para lá. E ela não me queria mas vingou-se de eu ter ido sem dever e tratou-me mal. Não me queria deixar vir. Foi um lição porque acordei apaixonada pela vida. Sou apaixonada pela vida até hoje.

A - Arrependimentos?

I - Quase nenhuns. A Isabel é doida, embebeda-se, desaparece sem dar cavaco, atira-se para uma fonte, faz loucuras. Mas não faz mal a ninguém. Magoei muito pouca gente na vida, arrependo-me de pouco na vida.


A - E chegámos ao presente. Sei que estás a trabalhar no Projeto da Miss Suzie. Conta lá.


I - Outra família que me acolheu, a Suzie e o Nico. Começou tudo com um acordo de cavalheiros. Eu ia ajudar porque estava sem trabalho e eles na medida da modéstia das possibilidades partilhariam o sucesso do projeto comigo. E eu partilho com eles a medida do menor sucesso quando as coisas não estão tão bem. E tornámos-nos uma equipa e uma família. Tem sido muito bom. Por partilhar isto com eles e pelo projeto em si. É uma coisa de muita criatividade, fantasia, para tornar as pessoas alegres. O tipo de coisa em que3 me vejo feliz e estou feliz.


A - E a seguir?

I - E a seguir é futuro e ânsia de viver e serenidade de aceitar essa minha ânsia e tentar ser feliz. Todos os dias.






















sábado, 23 de agosto de 2014

As medidas de... ... Paulo Afonso!



Entrevistámos o Paulo Afonso, vocalista dos Alfaiates à Porta da nossa Alfaiataria. Estava contentinho. Talvez fosse porque ia cantar a seguir, talvez fosse porque o barman brasileiro lhe servira um Porto de dose reforçada. Enfim...           ... temos que disciplinar o barman...


A - Então do início, nasces onde pá e o que é que andaste a fazer entretanto?

P - Olha, nasci na parideira nacional em Março de 76 e fui logo para Campolide onde estive os trinta anos seguintes.

A - Sais de casa dos paizinhos aos trinta, então?

P - Sim, tinha traçado esse como o meu limite.

A - E pelo meio?

P - Sei lá, já me esqueci. Olha eu queria ser piloto. Mas depois o meu pai tentou meter a cunha a um contacto na Força Aérea e lá me destruíram o sonho. "Filho, esquece, és caixa de óculos..."

A - E depois?

P - Depois quis ir para desporto e desta vez foi a candidatura que me deu cabo do sonho. Não tive média. Entrei na terceira opção. Engenharia do ambiente, aquelas coisas que escrevemos lá no formulário porque tem que ser mas não queremos realmente. Mas fui. Dois anos a passear os livros e às tantas tive pudor de ser sustentado pelos pais e desisti.



A - Arrependes-te?

P - De largar aquele curso em concreto, não! E fui para a TMN e estou até hoje nas Telecomunicações.

A - E a música.

P - A música surge entretanto na faculdade. Não, espera, foi antes. Foi com 17 anos que tive a minha primeira grande influência como cantor. Mas se eu te disser é off record, prometes?

A - Sim, é sigilo.

P - Pois bem, foi o Michael Bolton. O primeiro tipo marcante em como usar a voz.

A - Opá sendo assim não sei se vou conseguir manter o sigilo...

P - Ok, mas tinhas dito...

A - Tinha era um facto, mas é bom demais, compreenderás...           ... olha e alguma vez tiveste uma permanente igual ao Michael Bolton?

P - Isso não. Mas usei cabelo comprido. Mas era fraquinho. Fiquei careca cedo. Aos 22 anos comecei a perder cabelo.

A - Mas vamos de novo à música. Falaste da faculdade.



P - Sim conheci aquele que foi meu parceiro muitos anos e com quem construi o percurso até há pouco tempo divergirmos.  Fomos primeiro These Side, depois Volvo Laranja e depois amadurecemos como "Deus dos Cães". Mas as pessoas entravam e saíam e nós eramos o fio condutor.

A - Opá, desculpa lá voltar atrás de novo. Mas disseste 76. És peixinho? És mesmo?

P - Sou mesmo. Com aqueles traços todos passionais à flor da pele. Há é peixes gordos e eu sou peixe magrinho. Mas sou!

A - Ok, retomemos. Íamos em Deus dos Cães...

P - Sim foi muito bom. Muita pica, muitas noites. Marcante. Mas terminou. Terminou e surgem os Alfaiates. Pá, um convite que eu não esperava do Pedro e em boa hora aceitei porque me surpreendeu o grupo formado. Um projeto muito sintonizado e em que sinto que não sou o único a puxar. Estou com boas expetativas do que estamos a montar.

A - E o que é que achas que os Alfaiates vão oferecer ao público?

P - Epá, algo que eu diria chic, não é chic formal mas com gosto, sabes? Mas ao mesmo tempo meio desbunda!

A - Ah, palhaços chics!

P - Não! Palhaços, não! Mas o grupo tem química a tocar junto. E depois temos o Rui. Eu canto, mas não sou um entertainer, o Rui é. Eu canto e o gajo conta histórias e eu que sei o ambiente que se está a criar na sala lá em baixo. Epá, estou com expetativas.

A - Então vai correr bem?

P -Epá, sei lá! Isso pergunta-me no fim!


domingo, 17 de agosto de 2014

As medidas de ... ... José Ricardo Araújo!

Entrevistámos o Ricardo. A entrelinhas com uma fatia de bolo e uma mini nas unhas. O nosso guitarrista tímido hoje perdeu um tanto de percentagem dessa timidez e falou-nos de si.

A - Vamos do início. O Brasil, conta-nos lá.

R - Sou de Fortaleza, filho de famílias que podemos dizer humildes. O meu pai era engenheiro do Estado da DNOCS, que combatia a seca, grave na minha região e conheceu a minha mãe. E pronto...         ... na verdade se penso na minha família o que salta logo à vista é que quase todos eram músicos, do lado do meu pai, sobretudo. Mas o gosto pela música acabou por me vir sobretudo do lado da minha mãe que sempre me cultivou muito desde pequeno e nos fez ouvir muita coisa.

A - Agora a pergunta cliché, que influências vêm de então?

R - Justamente. Muitas. Sou eclético. Podes-me pedir para dizer o que não gosto. Mas dizer o que gosto, não consigo.

A - E quando é que a música passa da assimilação à prática?

R - Olha primeiro nem foi a guitarra. Comecei na flauta. Eu nem gostava de guitarra. Mas com uns 15, 16 anos comecei a ouvir Legião Urbana e  ouvir na rua os amigos tocarem as coisas deles fez o click. Comecei a aprender na rua e logo quis comprar uma guitarra. Na altura trabalhava como auxiliar de empregado de mesa num clube e fui juntando dinheiro. Mas depois não foi preciso gastar porque minha mãe ofereceu. (risos)

A - E depois, Portugal, como se dá o salto.

R - Como muitos. Na época a vida lá era difícil, muito desemprego a vida da família não estava fácil. Surgiu a oportunidade e viemos.

A - Como foi, difícil?

R - Nem por isso. Pensei que fosse mais, até pelo sotaque, mas foi fácil.


A - Sentiste preconceito..

R - Olha, não. Fiz logo amigos. Acho que em Portugal, nem é Portugal é o Mundo, o preconceito mais forte e feio é mais com a mulher brasileira, aquela coisa que é fácil e assim. Mas dizia, vim cá fazer o 12º ano e depois fui para o Conservatório fazer guitarra. Foi engraçado porque me preparei a estudar na escola do Mestre Duarte Costa. Já velhinho. Esquecia meu nome mas não esquecia o que tinha para ensinar, isso não. Foi uma grande mais valia. E foi onde abri os horizontes para a guitarra clássica. Até ali eu só me interessava pelo rock e pelo popular, conhecia algumas peças de orquestra e assim. Mas nessa altura me fascinei com as peças clássicas de guitarra.

A - Isso tudo foi quando?

R - Cheguei em 2000. Mas pelo meio, entre 2003 e 2007 estive de novo no Brasil. O SEF me sacaneou (risos). Fui lá só para tratar de documentos, disseram que tudo bem, podia voltar com estatuto de estudante mas depois no regresso disseram que afinal Conservatório não era Ensino Superior e criaram problemas. E lá fiquei. Foi complicado. Fiz faculdade lá mas não gostei. O ensino de música em Fortaleza não era bom, não. Pelo meio houve coisas complicadas, fiquei noivo e tal. Bom mas depois decidi voltar. Na altura a minha mãe precisava de apoio no negócio dela cá e me chamou. E eu vim. Passou mais um tempo e foi quando fui para a nova fazer Ciências Musicais.

A - E o que é um curso de Ciências Musicais?

R - É uma coisa mais teórica. Tal como o nome diz, tratar a música como ciência, compreender as origens da música, observar a música de várias culturas. Entre muitas outras coisas.


A - E como é que isso te encaixa como músico?

R - Eu gosto de tocar mas também gosto, talvez mais do lado teórico, do lado de ensinar. E por isso fez-me todo sentido. Eu quando escolhi ser músico sabia que no ideal seria executante e professor.

A - E depois?

R - Bom e depois agora surge a Alfaiataria. Aventura bem bacana porque temos todos liberdade para fazer coisas, participar, criar.

A - Para terminar não te vou perguntar o que é que vais fazer na Alfaiataria porque isso é óbvio. Vou perguntar o que é que gostarias de ver na Alfaiataria como público...

R - Olha meterem xadrez e uma bibliotecazinha era bem bacana!



























sábado, 5 de julho de 2014

Começou!

A Alfaiataria abriu portas.

Noite prazenteira em que os amigos foram chegando, emboscados logo com a flauta de espumante e morangos para manter o respeitinho.

E fomos ficando, em conversas aos cantos da sala e ao fresco da rua. O Ricardo entreteve-nos à guitarra e mais para o fim da noite juntaram-se-lhe o Rui e o Pedro para tocar. Sobretudo disparates. Quando se começa a dedicar músicas ao barman a coisa está a bater no fundo, já se sabe.

 Mas antes já tínhamos tido visitas inesperadas. Além dos amigos do costume apareceram os vizinhos. Normalmente quando os vizinhos vêm bater à porta a meio da festa é mau sinal. Decerto que vêm reclamar do barulho. Mas a Graça é a Graça e por isso os nossos vizinhos o que reclamaram foi que lhes franqueássemos a porta e lhes enchêssemos o copo. Dito e feito. Temos novos amigos.

Brevemente as fotos.